Turistas trocam de casas com estranhos em vez de usarem hotéis ou Airbnbs

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Turistas trocam de casas com estranhos em vez de usarem hotéis ou Airbnbs

 Iniciativas ajudam a economizar e podem ser solução para turismo de massa

Lauren Shaw trocou sua casa em Nova York para viajar e esquiar • Kindred via CNN Newsource

Porto Velho, RO - Lauren Shaw, moradora de Nova York, nos Estados Unidos, adora viajar, mas alugar a própria casa para desconhecidos? Nem pensar.

“Nunca me senti confortável em anunciar nosso apartamento em uma plataforma de aluguel”, diz ela. “Tenho amigos que tiveram experiências terríveis com hóspedes e pouco ou nenhum suporte da equipe da plataforma.”

Além disso, há a questão do custo. Shaw é apaixonada por esqui, um hobby notoriamente caro e que ficou ainda mais inacessível com a disparada dos preços das acomodações devido ao crescimento dos aluguéis de curto prazo na última década.

“O custo da hospedagem em destinos de esqui costuma ser altíssimo”, comenta.

Foi assim que ela e seu parceiro passaram a recorrer à troca de casas para viabilizar suas viagens.

“Nós amamos viajar, e essa possibilidade nos permitiu fazer isso com muito mais frequência, já que a hospedagem é geralmente a parte mais cara de uma viagem”, explica.

“E, como você também precisa abrir sua casa para poder ficar na de outra pessoa, há um senso maior de responsabilidade para cuidar do espaço da mesma forma que gostaria que cuidassem do seu.”

Novo jeito de viajar

Propriedade de troca de casas em Snohomish, Washington • Brittany McCloskey/Cortesia Kindred

Shaw faz parte da Kindred, uma das várias plataformas de troca de casas que ajudam usuários a viajar gastando menos. Além da economia, essas iniciativas também surgem como uma resposta às preocupações com o turismo excessivo e o aumento dos aluguéis que vêm expulsando moradores locais de suas cidades.

“Mais de 90% das casas na nossa plataforma são residências principais dos próprios anfitriões, ou seja, são de fato o lar dessas pessoas na maior parte do ano”, explica Justine Palefsky, cofundadora da Kindred. “Aqui, os membros trocam noites, não dinheiro, então não há como comprar ou vender estadias em espécie.”

A Kindred foi lançada em 2022 e, atualmente, tem 75 mil membros em 150 cidades nos Estados Unidos, Canadá, México e Europa Ocidental. A adesão à plataforma é gratuita, e os anfitriões não lucram ao receber hóspedes — o benefício é simplesmente a possibilidade de se hospedar na casa de outra pessoa em outro momento.

Os usuários pagam apenas uma taxa de serviço à empresa, que varia de 15 a 35 dólares (de R$ 85 a R$ 199) por noite, além dos custos de limpeza ao final da estadia. Segundo Palefsky, esse modelo torna a hospedagem cerca de dez vezes mais barata que um aluguel tradicional de curto prazo.

Ela também ressalta os impactos desse tipo de aluguel nas comunidades locais: “Era essencial criar um sistema com um impacto mais consciente sobre as cidades. Cresci em São Francisco, um lugar caríssimo, e sempre me perguntei: ‘Como vou conseguir bancar a mesma qualidade de vida que meus pais tiveram?’”.

Essa preocupação se repete em diversas cidades pelo mundo. O Airbnb, em especial, tem enfrentado críticas gradativas e restrições legais, à medida que líderes municipais tentam conter a disparada dos aluguéis causada pela conversão de imóveis residenciais em acomodações para turistas.

Além disso, o turismo de curto prazo altera o tecido urbano, eliminando pequenos comércios locais que os visitantes geralmente não frequentam.

Desde novembro de 2023, a Lei Local 18, de Nova York, proíbe o aluguel de apartamentos inteiros pelo Airbnb. Agora, só é possível anunciar um imóvel se o anfitrião também estiver presente durante a estadia, além de ser necessário registrar a propriedade na prefeitura — quem não cumprir as regras pode enfrentar multas de milhares de dólares.

Em Barcelona, as autoridades planejam proibir completamente os aluguéis de curto prazo até 2028, após protestos contra o turismo excessivo e uma reação negativa dos moradores às plataformas desse tipo.

Propriedade de troca de casas na popular cidade desértica de Palm Springs, Califórnia • Daniel Morando/Cortesia Kindred


“Tudo pode ser compartilhado”

Para além da economia e das questões urbanísticas, a troca de casas traz uma visão diferente sobre o significado de viajar.

“No início, a promessa do Airbnb era que qualquer coisa podia ser alugada, até mesmo seu bem mais precioso”, diz Emmanuel Arnaud, CEO da HomeExchange.

A HomeExchange existe há mais de 30 anos, primeiro como um catálogo físico e depois migrando para o digital. Hoje, a plataforma tem mais de 200 mil membros em 150 países e registrou um crescimento anual de 50% nos últimos três anos, com mais de 460 mil trocas em 2024.

Muitos a conheceram por meio do filme “O Amor Não Tira Férias”, no qual as personagens de Cameron Diaz e Kate Winslet trocam de casas e acabam transformando suas vidas.

“Nossa proposta é o oposto: tudo pode ser compartilhado. Existe outro mundo possível, que não se baseia apenas no dinheiro. Até mesmo seu bem mais valioso, sua casa, pode ser compartilhado. E, se todos compartilharem, podemos abrir um leque incrível de oportunidades de viagem.”

O funcionamento da HomeExchange é um pouco diferente do da Kindred. Em vez de pagar por cada estadia, os usuários desembolsam uma taxa fixa anual de 220 dólares (R$ 1.255) e podem fazer quantas trocas quiserem. No entanto, o princípio segue o mesmo: tornar as viagens mais acessíveis e fortalecer conexões humanas, sem que o objetivo seja apenas lucrar com o próprio imóvel.

“Quando tiramos o fator monetário da equação, a relação entre os membros muda completamente. Em vez de um cliente pagando por um serviço, há duas pessoas que contribuem de forma igual, que se conectam antes da viagem e escolhem confiar uma na outra”, diz Palefsky.

“Passei grande parte da minha carreira no setor de tecnologia e saí dele com um desejo de mais substância, de usar a tecnologia para aproximar as pessoas do mundo e criar relações mais genuínas”, acrescenta.

Solução para o turismo excessivo?

O comediante Esmond Fountain trocou sua casa em Nova York por uma em Londres • Cortesia Kindred

Claro que a troca de casas exige mais esforço dos participantes. É preciso entrar em contato com possíveis anfitriões, fazer chamadas por vídeo e garantir que ambos sejam compatíveis. Mas, em troca, a experiência se torna muito mais rica.

“Conhecer pessoas que realmente querem compartilhar seu espaço e receber bem os outros é algo muito especial. Esse espírito de generosidade e conexão ressoa comigo”, diz Esmond Fountain, comediante e contador de histórias de Nova York.

Ele conta que participou de um encontro de usuários da Kindred e acabou viajando para Londres pela primeira vez, acompanhado de um amigo que fez no evento.

“Não é só sobre viajar de forma econômica; o senso de comunidade transformou minha vida”, afirma.

Barbara, usuária da HomeExchange que preferiu não divulgar seu sobrenome por questões de privacidade, compartilha do mesmo sentimento.

“A troca de casas enriqueceu imensamente minha vida. Fiz amigos ao redor do mundo, visitei lugares que nunca imaginei e aprendi como as pessoas realmente vivem.”

Essas histórias mostram que, para quem busca conexão humana, a troca de casas pode ser uma experiência única. Mas seu potencial vai além: para legisladores preocupados com o turismo de massa, ela pode ser uma solução real.

“Se 100% das pessoas que hoje alugam imóveis por curto prazo estivessem trocando casas em vez disso, não haveria turismo excessivo, porque a quantidade de acomodações disponíveis seria a mesma que a de moradores”, afirma Arnaud.

E continua: “Se há gente morando no local, não estamos adicionando mais turistas. O número total de pessoas permanece o mesmo.”

Para cidades como Barcelona e Nova York, essa pode ser a resposta para um problema que, até agora, parecia não ter solução.

Fonte: CNN Brasil

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