Novos estudos na 'Science' reforçam mercado de Wuhan como origem do primeiro caso de Covid-19

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Novos estudos na 'Science' reforçam mercado de Wuhan como origem do primeiro caso de Covid-19

Sars-CoV-2 provavelmente se espalhou de animais para pessoas em duas ocasiões separadas; hipótese de vazamento de laboratório é 'improvável', segundo cientistas.

Porto Velho, RO - 
Duas pesquisas publicadas nesta terça-feira (26) na revista "Science", uma das mais importantes do mundo, reforçam a hipótese de que o mercado de animais de Wuhan, na China, foi o local onde o Sars-CoV-2 se espalhou de animais para humanos pela primeira vez na pandemia.

Veja os principais pontos:

    * Uma das pesquisas mapeou os padrões de transmissão nos locais onde foram detectados os primeiros casos de Covid-19 – e apontou para agrupamentos de casos centrados dentro do mercado de Wuhan.

    * A outra concluiu que as duas primeiras linhagens identificadas do coronavírus estavam geograficamente ligadas ao mercado – e provavelmente se espalharam de animais para humanos em duas ocasiões separadas.

    * Nenhuma das duas pesquisas foi feita no laboratório de Wuhan – mas ambas vão na contramão e tornam "improvável", segundo os cientistas, uma outra hipótese, levantada desde o início da pandemia, de que o o coronavírus tivesse sido fabricado ou vazado do laboratório. Em junho, um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a fonte da doença foi inconclusivo.

“Nós refutamos a teoria do vazamento de laboratório? Não, não refutamos. Mas acho que o que é realmente importante aqui é que existem cenários possíveis e plausíveis e é realmente importante entender que possível não significa igualmente provável", esclareceu Kristian Andersen, que participou de ambas as pesquisas, à agência de notícias americana Associated Press.

“Eu mesmo estava bastante convencido do vazamento do laboratório até que mergulhamos nisso com muito cuidado e analisamos muito mais de perto", completou o pesquisador.

Mapeamento de casos

O primeiro estudo, do qual Andersen é autor sênior, incorporou dados coletados por cientistas chineses para estimar a localização de mais de 150 dos primeiros casos de Covid, relatados em dezembro de 2019.

Eles também mapearam casos de janeiro e fevereiro de 2020 usando dados de um aplicativo de rede social que criou um canal para pessoas com Covid-19 obterem ajuda.

Os cientistas encontraram agrupamentos de casos dentro do mercado de Wuhan. Esses agrupamentos, disseram, eram "muito específicos" das partes do mercado onde, hoje, se sabe que eram vendidos animais selvagens como cães-guaxinim, suscetíveis à infecção pelo coronavírus.


Imagem mostra dois cães-guaxinim ('Nyctereutes procyonoides'), suscetíveis à infecção pelo coronavírus. — Foto: Wikimedia

O biólogo Michael Worobey, primeiro autor do estudo, explicou que os cientistas se questionaram onde as primeiras pessoas infectadas moravam.

“Quando pudemos olhar para isso, havia um padrão extraordinário em que a maior densidade de casos estava extremamente próxima e muito centrada nesse mercado”, disse Worobey, que é da Universidade do Arizona.




Imagem mostra mapeamento dos primeiros casos de Covid-19 feito por cientistas autores de uma pesquisa publicada na 'Science'; estudo aponta mercado de Wuhan como origem do primeiro caso de Covid-19. — Foto: Reprodução/Science

Worobey explicou que o padrão visto aponta que o vírus começou a se espalhar entre as pessoas que trabalhavam no mercado – e, depois, na comunidade local.

“Crucialmente, isso se aplica a todos os casos em dezembro e também a casos sem vínculo conhecido com o mercado. E isso é uma indicação de que o vírus começou a se espalhar em pessoas que trabalhavam no mercado, mas depois começou a se espalhar na comunidade local", completou o pesquisador.


Imagem mostra mapeamento dos primeiros casos de Covid-19 feito por cientistas autores de uma pesquisa publicada na 'Science'; estudo aponta mercado de Wuhan como origem do primeiro caso de Covid-19. — Foto: Reprodução/Science

Para Kristian Andersen, que é professor de Imunologia e Microbiologia da Scripps Research, um instituto de pesquisa na Califórnia, "todas essas evidências nos dizem a mesma coisa: apontam diretamente para esse mercado específico no meio de Wuhan”.

Diversidade genética

Já a segunda pesquisa – feita por uma equipe separada de cientistas, mas que também teve a participação de Andersen e Worobey – analisou a diversidade do código genético do vírus dentro e fora da China.

Os pesquisadores analisaram os primeiros genomas de amostras coletadas em dezembro de 2019 e se estenderam até meados de fevereiro de 2020. Eles descobriram que duas linhagens – A e B – marcaram o início da pandemia em Wuhan.

O autor sênior do estudo, Joel Wertheim, apontou que a linhagem A era mais geneticamente semelhante aos coronavírus de morcego, mas a linhagem B parece ter começado a se espalhar mais cedo em humanos, principalmente no mercado.

Isso significa dizer que o vírus provavelmente passou de animais para pessoas em duas ocasiões separadas.

“Agora percebo que parece que acabei de dizer que um evento único em uma geração aconteceu duas vezes em uma curta sucessão”, disse Wertheim, que é especialista em evolução viral na Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD).

Mas certas condições foram propícias para isso – como pessoas e animais próximos e um vírus capaz de se espalhar de animais para pessoas e de pessoa para pessoa.

Por isso, explicou o pesquisador, “as barreiras ao transbordamento [tradução literal de "spillover", a transmissão de patógenos de animais selvagens para humanos] foram reduzidas de tal forma que, acreditamos, várias introduções [na espécie humana] deveriam ser esperadas”.

Para o pesquisador Matthew Aliota, que não participou de nenhuma das duas pesquisas, ambas apontam para uma origem natural do coronavírus.

"Ambos os estudos realmente fornecem evidências convincentes para a hipótese de origem natural", disse Aliota, que trabalha na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Minnesota.

Como não é possível coletar amostras de um animal que estava sendo vendido no mercado, "isso é talvez o mais próximo de uma arma fumegante que você poderia conseguir."


Fonte: G1

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